11 de fevereiro de 2011

Palavras Vivificam e Matam


O Rei Salomão disse que as palavras detém o poder da vida e da morte. Isto é, palavras vivificam. Palavras matam. Matam aos poucos.

Palavras matam aos poucos quando causam constrangimento: quem ouve quer se esconder ou desaparecer de vez, deixando claro que melhor seria se as tais palavras não tivessem sido pronunciadas.

Palavras matam aos poucos quando ferem: quem ouve sente uma dor como se alguém tivesse arrancado um pedaço seu, um pedaço da esperança, da confiança, da beleza.

Palavras matam aos poucos quando ofendem: quem ouve tem seu caráter questionado.

Palavras matam aos poucos quando geram distanciamento: quem ouve vai perdendo o prazer de estar perto de quem fala.

Palavras matam aos poucos quando desestimulam: quem ouve vai perdendo o pique, vai deixando de acreditar que vale a pena continuar lutando.

Palavras matam aos poucos quando desestabilizam processos: quem ouve começa a duvidar se está fazendo a coisa a certa, se vai chegar a algum lugar, se os outros estão igualmente comprometidos.

Palavras matam aos poucos quando impedem ou fazem morrer processos: quem ouve abandona tudo.

Palavras matam aos poucos quando promovem discórdias: quem ouve começa a se afastar de um/a e de outro/a, até ficar ilhado/a.

Palavras matam aos poucos quando alimentam enfermidades: quem ouve recebe uma bicada em sua ferida já quase cicatrizada, e quem fala bica-se a si mesmo/a.

Palavras matam aos poucos quando revelam doenças: quem ouve se denuncia, ao se dirigir ao outro mostra seu próprio desequilíbrio.

Palavras matam aos poucos quando desmascaram caráter: quem ouve percebe má fé, discerne maldade, e deixa de confiar em quem fala.

Palavras matam aos poucos quando suscitam isolamentos: quem ouve vai se afastando até que quem fala se vê sozinho/a, abandonado/a.

Palavras matam aos poucos quando espalham lama: quem ouve fica com a alma suja da sujeira do outro, o outro que falou ou o outro de quem se falou.

Palavras matam aos poucos quando caluniam: quem ouve passa a acreditar em mentiras.

Palavras matam aos poucos quando suscitam diligências: quem ouve tem que sair correndo atrás de apagar os incêndios causados por quem fala.

Palavras matam aos poucos quando diminuem: quem ouve acaba acreditando ser menor do que de fato é.

Palavras matam aos poucos quando iludem: quem ouve pensa que é verdade, quem fala acredita que é verdade, quem observa de longe lamenta dois enganados.

Palavras matam aos poucos quando expressam mentiras: quem ouve é traído, quem fala se condena.

Palavras matam aos poucos quando escondem Deus: quem ouve já não vê saída, quem fala está cego.

Palavras matam aos poucos quando induzem ao mal: quem ouve faz o que não imaginou que faria, e, depois de ter feito, lamenta e chora.

Palavras matam aos poucos quando são fúteis: quem ouve vai se cauterizando, se infantilizando, se alienando, até se perder da vida real.

Palavras matam aos poucos quando são gélidas: quem ouve vai ficando cínico/a, cético/a, amargo/a, até só enxergar o que não presta.

Palavras matam aos poucos quando se transformam em discursos: quem ouve, de tanto que já ouviu, já sabe de cor e salteado o que vai ouvir, até que já não ouve mais.

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